Espiritualidade Líquida

Liquidez é a metáfora que Bauman utiliza para explicar o sentido da pós-modernidade. A crise das ideologias fortes, “pesadas”, “sólidas”, típicas da modernidade produziu, do ponto de vista cultural, um clima fluido, líquido, leve, caracterizado pela precariedade, incerteza, rapidez de movimento.

Os líquidos, diferentemente dos sólidos, não mantêm sua forma com facilidade [...] Enquanto os sólidos têm dimensões especiais claras, mas neutralizam o impacto e, portanto, diminuem a significação do tempo (resistem efetivamente a seu fluxo ou tornam irrelevante), os fluidos não se atêm muito a qualquer forma e estão constantemente prontos (e propensos)  a mudá-la. (Bauman, 2005).

Se, na modernidade, as ideologias elaboradas tinham a pretensão de serem abrangentes, exaustivas e, sobretudo orientativas, não é assim pela cultura elaborada na pós-modernidade, na qual tudo flui de um jeito extremamente rápido, de uma forma que, aquilo que era certo ontem, hoje não é mais. Neste mundo líquido, assistimos a algumas passagens importantes, que marcam o novo clima cultural.

A primeira passagem é de uma vida segura para uma vida precária.

“A vida líquida é uma vida precária, vivida em condições de incerteza constante.” (Bauman, 2005). Se a modernidade oferecia um leque de ideologias fortes, que produziam uma segurança existencial nas pessoas que nelas confiavam, neste mundo líquido não é mais assim. O desmoronamento das metanarrações da modernidade trouxe consigo a perda de pontos referenciais válidos, que pudessem oferecer segurança na vida das pessoas. A precariedade, de agora em diante, tornou-se não apenas um dado cultural mas, sobretudo, social, porque não foram apenas ideologias a desmanchar, mas também estilos de vida, costumes.

As preocupações mais intensas e obstinadas que assombram este tipo de vida são os temores de ser pego tirando uma soneca, não conseguir acompanhar a rapidez dos eventos, ficar para trás, deixar passar as datas de vencimento, ficar sobrecarregado de bens agora indesejáveis, perder o momento que pede mudança e mudar de rumo antes de tomar o caminho de volta (Bauman, 2005).




Paolo Cugini

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